quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

A que me cheira o Mar?

Olho em meu redor
vejo a imensidão do Mar
tento memorizar
mas não consigo fixar!

Cheiro, Cheiro,
mas não consigo identificar
nenhum igual...

Viro-me e ouço gaivotas
elas acompanham as ondas
vão acima e vão abaixo
espalhando o seu sal.

Caminho pelas areias frias,
Olho para o céu,
O sol já dorme
e as estrelas tímidas vão surgindo.

Fecho os olhos
tento associar
A que me cheira o Mar?

Olho o horizonte,
Vejo uma linha infinita
uma cor no fundo,

Chamo, mas não me ouço
que voz é esta que não é minha?

Fecho os olhos,
A que me cheira o Mar?

O azul do céu é igual ao ... Mar
a areia de tanto olhar é branca
como a espuma da maré

A que me cheira o Mar?

terça-feira, 2 de junho de 2009

"Além de ser uma réplica do Realismo irónico queirosiano (...) o Realismo Lírico de Cesário Verde será o seu espaço de autenticidade anti-retorista, com versos magistrais, solubres e sinceros"


Cesário Verde tentou na sua modesta forma de ser copiar o realismo irónico de Eça de Queirós, mas a sua ousadia não foi bem interpretada. Alguns contemporâneos não viram com bons olhos a actividade poética de Cesário. Assim, o realismo lírico por ele utilizado transformou-se num esforço e numa autenticidade anti-retorista utilizado para concretizar o seu objectivo uma nova estática modernista: os versos magistrais, solubre e sinceros.
No intuito de explicar a poética Cesariana devemos compreender o interesse que o move pela captação do real. Ele só escrevia nas horas vagas, pois a sua profissão consistia na actividade comercial na loja do pai. Cesário debate-se entre dois mundos num conflito entre uma irreprimível vocação poética, sonhador e imaginativo. Por outro lado a profissão fez dele um homem pragmático positivo, observador e atento aos pormenores concretos do meio ambiente que o rodeia.
O dualismo entre comerciante e poeta isolava-o dos outros literários, o facto de ele se sentir poeta talvez nos permita justificar o seu carácter misantrópico, reflectindo-se na sua solidão, descritos em muitos dos seus poemas.
O poeta José Joaquim Cesário Verde cresceu num ambiente abastado pertencendo a uma classe burguesa. Cedo manifestou a sua vocação depreciada pelo pai, incentivando-o a optar por outro estilo de vida, mas como jovem intelectual que era foi sempre autodidacta. Num determinado momento da sua vida é atraído pela boémia citadina da qual agravou o seu lado insatisfeito e inadaptado. Cada vez mais integrado na gerência e na exploração da quinta ocupando-se da escrituração, desenvolvendo o comércio da exportação e actualizando métodos de lavoura começa cada vez mais a interessar-se pela natureza e pelas ideias do naturalismo. Assim podemos mais uma vez comprovar a sua aproximação literária da época. Se tivermos em conta o seu especial interesse pelo real, pelas cenas exteriores, por figuras citadinas encontramos uma afinidade pelo realismo. A ligação com o naturalismo verifica-se quando o meio em que o rodeia é determinante nos seus comportamentos, pela sua objectividade dos temas, baseados na natureza e no quotidiano como também pelas formas correctas e exactas encontramos afinidades com Parnasianismo. Esta escola defende uma objectividade concreta, mas a subjectividade do poeta que sofre e que está sempre presente nas suas composições constitui um desvio em relação à escola parnasiana. Por ultimo podemos falar do impressionismo na qual a realidade é retratada e filtrada pelas percepções. O poeta pretende captas as impressões que os objectos lhe deixam através dos sentidos, a poesia quotidiana despoétiza o acto poético, daí a sua poesia começou a ser rotulada de prosaica e concreta. Ele não surpreende os aspectos da realidade, como faz uma reflexão detalhada sobre poesias e condições. A sua representação do real quotidiano é marcada pela captação perfeita de grandes efeitos sinestésicos, de cores, formas, luz... apelidada de visão objectiva, embora não podemos menosprezar uma certa visão subjectiva na qual Cesário procura representar a impressão que o real lhe deixa, levando-o por vezes a transfigurar, a transcender a realidade, transportando-a numa outra.
No entanto, não podemos esquecer que vários poetas da escola francesa como Baudelaire, Victor Hugo, Fradique trouxeram-nos influências de Fin du Siècle, como o sarcasmo, a ironia, o satanismo, as injustiças sociais, a justiça e a liberdade. Cesário inspirando-se nas doutrinas de Proundhan e de Taine, quem ele considerou seu mestre, desenvolveu o seu gosto pelo naturalismo. Partindo sempre da inspiração literatura francesa, encontramos marcas profundas do pensamento da época. Eis algumas características estilísticas e linguísticas bem visíveis na sua poesia, como: vocabulário objectivo e concreto; imagens extremamente visuais com o objectivo de dar uma dimensão realista do mundo (poeta/pintor); pormenor descritivo; a mistura entre o físico e a moral; o uso de sinestesias, metáforas, adjectivações; o uso da técnica descritiva, na expressividade do advérbio, no uso do diminutivo, na utilização da ironia de forma a cortar um pouco com o seu subjectivo. A nível morfossintáctico destaquemos uma vez mais o colorido de uma linguagem coloquial, caracterizada pela técnica impressionista, ou seja, Cesário utiliza uma linguagem prosaica, aproximado da prosa e da linguagem do dia-a-dia. Não esquecendo o predomino de quadras em versos decassilábico (alexandrinos), que personaliza a sua literatura em magistral, solubre e sincera.

domingo, 29 de março de 2009

Vida e (Menina e Moça) de Bernardim Ribeiro

Bernardim Ribeiro, escritor português renascentista, presume-se que terá nascido por volta de 1482 na Vila do Torrão, Alentejo, e terá frequentado a universidade entre 1507 e 1512. Em 1524 foi nomeado escrivão da câmara de D. João III, existindo no entanto, algumas dúvidas de que o escritor e o escrivão fossem a mesma pessoa. Desconhece-se igualmente a data da sua morte. Alguns autores situam-na por volta de 1552, no entanto, na écloga Basto, redigida antes de 1544, Sá de Miranda refere-se ao seu "bom Ribeiro amigo", dando-o como falecido.
Frequentou a corte onde foi poeta conhecido, já que figura entre os colaboradores do Cancioneiro Geral de 1516, de Garcia de Resende
Alguns ensaístas defendem que Bernardim Ribeiro seria de descendência judaica, esta tese surge apoiada noutros factos da vida do autor, como o seu afastamento forçado da corte, talvez mesmo de Portugal, já que a publicação das suas obras teve lugar em cidades estrangeiras, onde havia comunidades de judeus emigrados.
Introduziu em Portugal o bucolismo, espécie de poesia pastoral, que descreve a qualidade ou o carácter dos costumes rurais, exaltando as belezas da vida campestre e da natureza.
Terá sido possivelmente o primeiro a escrever sextina (composição de origem provençal, formada por seis sextilhas e um terceto) na língua portuguesa.
A sua obra principal é a novela Saudades, mais conhecida como Menina e Moça.
A introdução inicia-se com o monólogo da menina que se refugiou, recordando a sua infância, as mudanças funestas e mágoas que agora projectam na Natureza.
Novela sentimental na linha da novelística peninsular, de temática amorosa e cavaleiresca, com fundo bucólico e autobiográfico, como o sugerem os inúmeros anagramas, quer do nome do autor Binmarder, quer de pessoas das suas relações, como Aónia (Joana) ou Avalor (Álvaro).
O feminismo da escrita é um reflexo da sensibilidade do autor, da sua delicadeza e da sua abertura ao valor espiritual da mulher.
O amor, trágico alia-se a um sentimento geral de fatalismo e solidão, numa linguagem que se aproxima do coloquialismo, de extrema riqueza rítmica e lírica. Esta novela veio influenciar claramente a literatura portuguesa, constituindo um fundo sentimental recuperado posteriormente por vários escritores e pelos movimentos românticos e saudosista.