terça-feira, 2 de junho de 2009

"Além de ser uma réplica do Realismo irónico queirosiano (...) o Realismo Lírico de Cesário Verde será o seu espaço de autenticidade anti-retorista, com versos magistrais, solubres e sinceros"


Cesário Verde tentou na sua modesta forma de ser copiar o realismo irónico de Eça de Queirós, mas a sua ousadia não foi bem interpretada. Alguns contemporâneos não viram com bons olhos a actividade poética de Cesário. Assim, o realismo lírico por ele utilizado transformou-se num esforço e numa autenticidade anti-retorista utilizado para concretizar o seu objectivo uma nova estática modernista: os versos magistrais, solubre e sinceros.
No intuito de explicar a poética Cesariana devemos compreender o interesse que o move pela captação do real. Ele só escrevia nas horas vagas, pois a sua profissão consistia na actividade comercial na loja do pai. Cesário debate-se entre dois mundos num conflito entre uma irreprimível vocação poética, sonhador e imaginativo. Por outro lado a profissão fez dele um homem pragmático positivo, observador e atento aos pormenores concretos do meio ambiente que o rodeia.
O dualismo entre comerciante e poeta isolava-o dos outros literários, o facto de ele se sentir poeta talvez nos permita justificar o seu carácter misantrópico, reflectindo-se na sua solidão, descritos em muitos dos seus poemas.
O poeta José Joaquim Cesário Verde cresceu num ambiente abastado pertencendo a uma classe burguesa. Cedo manifestou a sua vocação depreciada pelo pai, incentivando-o a optar por outro estilo de vida, mas como jovem intelectual que era foi sempre autodidacta. Num determinado momento da sua vida é atraído pela boémia citadina da qual agravou o seu lado insatisfeito e inadaptado. Cada vez mais integrado na gerência e na exploração da quinta ocupando-se da escrituração, desenvolvendo o comércio da exportação e actualizando métodos de lavoura começa cada vez mais a interessar-se pela natureza e pelas ideias do naturalismo. Assim podemos mais uma vez comprovar a sua aproximação literária da época. Se tivermos em conta o seu especial interesse pelo real, pelas cenas exteriores, por figuras citadinas encontramos uma afinidade pelo realismo. A ligação com o naturalismo verifica-se quando o meio em que o rodeia é determinante nos seus comportamentos, pela sua objectividade dos temas, baseados na natureza e no quotidiano como também pelas formas correctas e exactas encontramos afinidades com Parnasianismo. Esta escola defende uma objectividade concreta, mas a subjectividade do poeta que sofre e que está sempre presente nas suas composições constitui um desvio em relação à escola parnasiana. Por ultimo podemos falar do impressionismo na qual a realidade é retratada e filtrada pelas percepções. O poeta pretende captas as impressões que os objectos lhe deixam através dos sentidos, a poesia quotidiana despoétiza o acto poético, daí a sua poesia começou a ser rotulada de prosaica e concreta. Ele não surpreende os aspectos da realidade, como faz uma reflexão detalhada sobre poesias e condições. A sua representação do real quotidiano é marcada pela captação perfeita de grandes efeitos sinestésicos, de cores, formas, luz... apelidada de visão objectiva, embora não podemos menosprezar uma certa visão subjectiva na qual Cesário procura representar a impressão que o real lhe deixa, levando-o por vezes a transfigurar, a transcender a realidade, transportando-a numa outra.
No entanto, não podemos esquecer que vários poetas da escola francesa como Baudelaire, Victor Hugo, Fradique trouxeram-nos influências de Fin du Siècle, como o sarcasmo, a ironia, o satanismo, as injustiças sociais, a justiça e a liberdade. Cesário inspirando-se nas doutrinas de Proundhan e de Taine, quem ele considerou seu mestre, desenvolveu o seu gosto pelo naturalismo. Partindo sempre da inspiração literatura francesa, encontramos marcas profundas do pensamento da época. Eis algumas características estilísticas e linguísticas bem visíveis na sua poesia, como: vocabulário objectivo e concreto; imagens extremamente visuais com o objectivo de dar uma dimensão realista do mundo (poeta/pintor); pormenor descritivo; a mistura entre o físico e a moral; o uso de sinestesias, metáforas, adjectivações; o uso da técnica descritiva, na expressividade do advérbio, no uso do diminutivo, na utilização da ironia de forma a cortar um pouco com o seu subjectivo. A nível morfossintáctico destaquemos uma vez mais o colorido de uma linguagem coloquial, caracterizada pela técnica impressionista, ou seja, Cesário utiliza uma linguagem prosaica, aproximado da prosa e da linguagem do dia-a-dia. Não esquecendo o predomino de quadras em versos decassilábico (alexandrinos), que personaliza a sua literatura em magistral, solubre e sincera.

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